terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Recorrente parte 4: O cémitério.

Em um belo dia. Uma família caminha por uma extensa rua onde ao seu lado um muro segue até onde os olhos podem ver...O pai, a mãe e a avó caminham conversando e sorrindo. Os dois irmãos brincam andando ao lado deles sorrindo muito... e sendo escoltados por dois homens... um magro e um gordo.O lugar não se sabe onde é... nunca foi visto pelos olhos de nenhum deles, mas mesmo assim, conversam e riem caminhando despreocupados.O muro branco se extende....e uma vegetação alta do outro lado do muro não deixa ver mais além...Um tempo andando, um tempo conversando....ninguém percebe nada, não sente nada.Tudo se apaga.A escuridão toma conta de tudo.O irmão mais novo abre os olhos... é noite. Não ve ninguem.Ele está do outro lado do muro...A vegetação é alta....mas em alguns pontos alguns caminhos aparecem, e em outros pontos clareiras. Por todos os lados poças d'água, lama....O irmão mais novo encontra seu irmão...na verdade eles se encontram, ele surge do nada trombando no garoto, que se mostra em desespero...Decidem procurar a todos.Andam durante um tempo em meio a vegetação. E o irmão mais novo ve algo dentro de uma poça que parecia ser um pouco mais funda.Ele enfia a mão na água putrefata. E puxa para fora...Os dois homens...o gordo e o magro, amarrados, entreçados...fundidos.... os irmãos se assustam. O garoto solta os dois homens, que caem na poça...ao se afastar os dois homens se reviram em um rápido espasmo....

Os irmãos se assustam e se afastam... Está muito escuro... Eles olham durante alguns estantes os corpos imóveis à espera de alguma coisa...mas nada mais se move.

Então os irmãos decidem andar em meio a vejetação para procurar os outros.

Caminham lentamente, com medo do que poderia surgir de dentro das moitas imóveis, não havia vento algum...

Depois de algum tempo, com a vejetação sempre igual em todas as partes, os irmãos chegam ao muro...

Examinam assustados a rua...e não veem nada. Não há lua alguma, nenhum dos postes de metal estão acesos....mas uma luz fraca, vinda não se sabe de onde, ilumina a rua.

Os garotos ja estão na rua. Assustados olham para todos os lados. O irmão mais novo, sempre olha pada o outro lado do muro com medo de algo que poderia vir dali...mas as plantas estão completamente imóveis. A rua vazia...sem nenhuma casa se torna ainda mais assustadora. Ainda mais porque ele não consegue ver o que há do outro lado da rua.
O irmão mais velho continua dizendo que devem procurar os outros...seus pais e sua avó.
O medo acaba tomando conta do mais novo.
Nada passa pela rua. Aliás...desde o começo eles não veem nada passando por aquela rua escura. A caminhada está longa...os irmãos estão andando à um bom tempo.
Então os irmãos avistam alguém deitado desacordado sob um dos postes de metal....sendo este, o único poste aceso da interminável rua, iluminando o homem quase em uma posição fetal aos seus pés...
O mais velho fica sério...O irmão mais novo sorri... É o pai deles!O mais novo corre até lá, o irmão mais velho corre junto à ele preocupado...
Papai...papai! chama o garoto...
Ele sacode o homem imóvel deitado de olhos fechados no chão da rua...Não se ouve uma palavra...o pobre garoto com as mãos nos ombros de seu pai se desespera, quase começa a chorar. E larga seu pai... Que em um salto repentino segura o braço de seu filho mais novo com os olhos arregalados em um desespero mortal.
.
..
...
Olha fundo nos olhos de seu filho que também arregala seus olhos...em um pavor congelante.

....



O brilho do olhar de seu pai desaparece, suas páupebras caem, e ele despenca como uma pedra no chão.

Seus filhos o olham aterrorizados...


O mais novo não sabe o que fazer...


E então continuam andando.


A interminável avenida...


sombria...


silenciosa...


assustadora...

Continuam andando por longos minutos...mesmo que esses minutos pareçam horas...e essas horas longas noites, que se ligam umas nas outras se tornando uma vida na escuridão...
O garoto vai andando pela rua... temendo o que pode aparecer, o que poderia vir a acontecer.
Apesar de tanto andar, a paisagem continua sempre a mesma. O longo muro interminável, cinza, se estendento até onde a vista alcança...o que não é grande coisa pois não se ve muito além. A escuridão é profunda, somente alguns pontos são iluminados por velhos postes enferrujados, mas estão muito distantes uns dos outros.
O garoto está sozinho e nem percebe. Vai seguindo a rua sem ninguém para lhe acompanhar. Desde quando está assim? Por que caminha sozinho?Seu coração fica mais apertado...
...

...

Sem nunca olhar para traz o garoto continua caminhando, agora não quer mais olhar para o outro lado do muro. Segue caminhando pela rua. Escura, seguindo o muro.
É noite.
É entardecer...ou algo que se pareça com isso...A luz do sol está laranja. desde quando tudo clareou? O garoto olha para traz, e percebe que o muro termina, e tudo que está para tras dele é noite em uma divisão exata, o muro tem um corte exato na vertical, dali pra trás é noite...e dali para cá... se faz esta luz alaranjada.
Então o garoto se vira e continua seguindo a nova paisagem, um deserto...mas a rua continua ali.
Ele anda por mais algum tempo...até perceber, que o deserto virou um campo, para cada lado um leve morro...um gramado verde.
E algumas pedras espalhadas...enfileiradas.
O garoto sai da rua, sobe até uma delas...agora percebe que o campo está cheio delas.
São lápides. Nada está escrito em nenhuma delas. Lápides daquelas de filmes famosos de Rollywood. Em forma de "U" invertido...
O garoto se assusta. Seu coração se aperta ainda mais.
Ele se afasta e vai até a calçada. Para, olha para os dois lados...milhares de lápides se espalham pela paisagem...
...
...
...
...
Tudo desaparece...
Lágrimas umedecem seu rosto...
Nada clareia...O garoto não quer abrir os olhos.
Toma coragem...
Tudo se clareia...
Ele seca o rosto...
E se levanta para um novo dia...
Nunca mais viu o cemitério, nem sabe o que tem mais além... mas ainda assim jamais se esqueceu de nada.

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